Os últimos acontecimentos têm sido extremamente constrangedores para nós mulheres, com a história que tem se tornado rotineira de homens ejaculando em mulheres em locais públicos, principalmente ônibus; e como as autoridades banalizaram este ato que é uma afronta à dignidade de qualquer mulher.
Pois venhamos e convenhamos. Normal não é. Mas é banal.
A violência contra a mulher não é apenas a física, tem aquela que é imperceptível, como gota d´água pingando durante séculos. E esta violência se expressa em forma de canto, em forma de acalanto, em forma de “sexo frágil”, em forma de mito, em forma de arte.
Um dos quadros mais famosos do artista Ticiano é Danae e Jupiter (1551) onde Jupiter (Zeus) “fecunda” Danae com uma chuva de ouro, trocando em miúdos, e de uma forma mais direta, Jupiter ejacula sobre Danae. Uma forma poética de mostrar uma relação unilateral.
E esta cena se perpetua há quantos séculos! E até agora Júpiter tem ficado apenas no mundo mitológico, mas estamos esbarrando com várias deles, senhores de si, deuses onipotentes e certos da impunidade nos coletivos, nas ruas, nos bares.
Como a gente pode perceber a questão da violência e do desrespeito já está tão banalizado que como disse o juiz, foi só uma contravenção, pois Jupiter só se masturbou e ejaculou sobre a Danae no ônibus.