Temos vários “Dorian Gray” rondando nossas vidas. Na história de Oscar Wilde (O retrato de Dorian Gray), Dorian é um homem belíssimo, bem educado, a pessoa que todo mundo simpatiza, com seus traços angelicais e juventude eternizados.
Todos se encantam por ele, mas só ele sabe que sua beleza foi trocada pela sua alma. E o grande mata-borrão de sua alma é um quadro escondido no sótão de sua casa – ninguém sabe dele ou pode vê-lo. Neste quadro estão todos os anos, maldades, devassidão e egoísmo do belo Dorian.
E quantos Dorian encontramos no nosso dia-a-dia!
Aqueles cujo verniz social os faz esconder nos sótãos de sua alma verdadeira chuva de hipocrisia. É aquela pessoa que nos passa a impressão de ser um ótimo colega de trabalho, de escola, pai de família, marido, esposa, e de por trás agem como se fossem “monstros” em suas atitudes. Só pensam em si, pouco se importam o que acontece com os outros e se relacionam com aqueles que não os retirem de sua zona de conforto. Egóicos ao extremo, o mundo gira em torno de si e de seus problemas
São Dorians que guardam em seu sótão mental aquilo que eles têm de pior, e que se faz apresentar quando menos esperamos.
Os Mephistos são um pouco diferentes.
Na estória de Klaus Mann, Mephisto quer se aproveitar das oportunidades ofertadas pelos nazistas para se tornar o melhor ator da Alemanha.
Assim como tantos Mephistos que conhecemos, mascarados nas pessoas que se vendem para continuar no poder – qualquer poder.
É aquele que se torna amigo do chefe para obter benesses, o que se relaciona com os poderosos para desfrutar do poder, que é amigo do síndico para saber as fofocas.
Aquele ator que sobre a máscara guarda uma pessoa sem escrúpulos, sem ética, que manipulam para ver sua vontade sendo obedecida, suas atitudes justificadas. O especialista em “puxar tapetes”.
E para ambos os arquétipos, temos uma mudança no psiquismo das pessoas, pois usam tantas máscaras que no final nem sabe quem são na realidade. Alicerçam sua vida no poder temporal, nas “personas” de cada teatro que representam para a vida.
Mas um dia se aposentam, os filhos crescem, o corpo envelhece. O que fazem, o que sentem, o que sobra da humanidade dentro de si?