Na Primavera do tempo

A primavera já chegou em setembro, mas esta mulher soberana em seu manto vermelho, caprichosa como só as mulheres podem ser, só quis chegar no início de outubro.

A Primavera (1482) – Sandro Botticelli

E neste lindo domingo, dia 02 de outubro, ela começou a se apresentar. Eu a esperei durante muito tempo, e finalmente este dia chegou.

Para honrar este encontro eu me vesti de branco. Mais do que qualquer cor, o branco é o somatório de todas elas. Meu branco representou com orgulho o arco-íris dos meus irmãos LGBTQIA+, e celebrou a liberdade do Espírito para manifestar em seus corpos o que eles são. A cor representou todos os meus irmãos pretos, pardos, indígenas, asiáticos, brancos. Todas as etnias estavam em minha roupa branca, mesmo porque daqui a pouco, estas cores se misturarão no mesmo solo que há de reciclar nossos corpos.

Ao olhar pela minha janela, percebi pelo balançar das folhas que ainda corria um vento frio, pois a primavera chega com passos firmes mas delicados.

Assim achei por bem me proteger das ruas ainda cinzentas e frias com a minha echarpe vermelha, minha companheira de tantos momentos. Ao passá-la ao redor do meu pescoço, percebi que ainda faltava algo para honrar a chegada da nova estação. E aquele batom vermelho completou meu sorriso de alegria.

Flor de Pascoa (1873) Marianne North.

E assim fui ao encontro da nova estação, com passos firmes, esperança no coração, fé no futuro e na certeza que há uma estrela a nos guiar.

Afinal, por mais que seja rigoroso o inverno, jamais se pode deter a chegada da primavera

Efeito Matilda: A Triste Realidade Profissional em um Simples Estudo de Gênero

girl-2573111_640Eu sempre estou atenta às noticias relacionadas com a minha profissão “de origem”, a de Meio Ambiente (para quem não sabe sou Quimica com mestrado em Toxicologista Ambiental e doutorado incompleto na área de gestão de Acidentes Ambientais Ampliados).

Assim, com a pulga atrás da orelha depois do trabalho que apresentei sobre a Invisibilidade Feminina, quando trouxe ao conhecimento do presentes o Efeito Matilda,  e resolvi fazer um levantamento meio en passant sobre como se comporta o mercado de trabalho na área ambiental quanto ao sexo. Daí eu entrei no site vagas no serviço de mapas de carreiras para saber um pouco mais.

Confesso que fiquei surpresa com a disparidade dos dados, pois na posição mais básica – estágio em meio ambiente – temos entrando no mercado de trabalho 68% de mulheres e 32% de homens. Quando chegamos a posições de liderança, esta porcentagem inverte drasticamente. Entre a função de gerente ambiental temos 43% de mulheres e 57% de homens.

estatistica

Vemos claramente que a porcentagem se inverte cada vez que há uma ascenção no nível profissional. Dentro do gráfico, o único ponto contrastante é o de supervisor ambiental, o que percebi pelas especificações da profissão que esta supervisão é mais voltada para o “chão de fábrica”, ou seja, um ambiente historicamente masculino.

Então eu me pergunto onde anda toda esta conversa (fiada!!) de que temos oportunidades iguais no mercado de trabalho. Não quis entrar na seara da idade para não ter uma depressão, pois se olharmos em sites profissionais tipo linkedin só vemos pessoas sorrindo e felizes com aparência de no máximo 40 anos. Acredito (especulação minha ok?) que o ponto de corte drástico das empresas seja nesta faixa.

Por mais que falemos de direitos iguais, competências iguais, por baixo dos panos isso não acontece, e ainda temos muito, mas muito caminho para percorrer.

A estrada é muito longa, então vamos de sapatos confortáveis e fortalecer os nossos passos.