Sobre príncipes

Enquanto estava pelo aplicativo, tudo fluiu bem.
Procurei nas redes sociais como me comportar – incrível o que nos ensinam nas redes hoje em dia.
Fotos com filtros, sorrisos eternos de uma felicidade que está por vir.
Um tempo que não sei precisar. Minutos? Dias? Meses?
Finalmente tomamos coragem e saímos para tomar um chopp. Ansiedade a mil. Será que a roupa está boa? Será que a aparência sem filtro vai ser aceita? Usei tantos filtros dos mais diversos aplicativos durante esses meses que não sei mais quem sou.
Bom…já decidi! Vou com aquela roupa que você curtiu no app e me achou uma gata.
E assim chegamos ao barzinho, ainda de dia, eu muito solar.
A cada vírgula um chopp na intenção de me soltar, afinal estou tensa e quero conquistar você, que se apresentou forte e sensível ao mesmo tempo no app.

Após algum tempo de conversa e muitos chopps, tentei sempre me pronunciar ao seu favor, afinal a sua ex, que você viveu 18 anos entre idas e vindas, me pareceu uma megera!
E você, cheio de amor no peito, carente de afeto, tão vítima de uma mulher tão cruel, pintada de preto e branco em meia hora, conquistou meu coração.
Te conheço a duas horas pessoalmente, e sei que você é um anjo em terra – você me contou.
Me arrisco a te dar nosso primeiro beijo e você corresponde tímido a essa represa que rompeu de amores a um avatar que agora tem corpo.
– vamos sair daqui? (pergunta ele)
– sim, vamos.
– para onde?
– você escolhe…


Alguém tem uma idéia do que com esta mulher na mesa ao lado da minha?
Espero que ele realmente seja o príncipe, e não o algoz.

A expedição naturalista da princesa Teresa da Baviera pelas terras brasileiras – uma história esquecida

No fim de junho de 1888, a Princesa Teresa da Baviera chega ao litoral brasileiro, em Belém do Pará com seu vapor Manauense. Para não ser reconhecida, a filha do rei Leopoldo da Baviera viajou sob o nome de Therese Von Elpen. Sua equipe reduzida contava com uma dama de companhia, uma cavaleiro da corte e um criado com experiência em taxidermia.

Teresa sequer se apresenta à delegação diplomática da Alemanha no Rio de Janeiro. Seu objetivo não era os salões da aristocracia ou as recepções do império, mas a  busca pelo conhecimento científico da população nativa, fauna e flora brasileira.

Autodidata, estuda a chamada história natural, se debruçando em disciplinas como botânica, zoologia, geografia, etnografia, geologia e paleontologia.

Para comandar sua expedição pelos rios do Brasil, de Manaus ao Espírito Santo, passando pelo Rio de Janeiro, estudou com afinco os relatos de viagem de Von Humboldt, a sistemática de Linneaus e todos os textos de referencia para que sua expedição fosse um sucesso.

O objetivo de Teresa não foi descobrir novas espécies, embora naturalmente isto tenha ocorrido. Ela veio com o propósito de coletar, ordenar, catalogar e classificar as espécies encontradas, e entregá-las aos museus da Baviera.

Amiga de Dom Pedro II, Teresa nutria por ele uma “afinidade espiritual”, e enquanto ele se interessava pelas humanidades, ela trilhou o caminho das ciências naturais.

Apesar de toda sua narrativa extremamente científica, ela não deixou de descrever através dos detalhes das cores, a beleza das espécies que encontrava. Quando ela se encontrava no Pará, assim escreveu em seu diário:

“Rica como a flora era também a fauna dessa ilha equatorial. Ressoavam na floresta gritos de papagaios. Quando roçamos da parte mais espessa da mata, beija-flores castanho-avermelhados com cauda de cintilante matiz arruivado (Pygmornis pygameus Spix?) esvoaçaram sobre nossas cabeças”.

Teresa descreve com detalhes as mais diversas tribos indígenas que conheceu, entre elas as índias de Tauapeçaçu, no rio Negro com uma riqueza de detalhes que estimula nossa imaginação:

“Esta tinha uma fronte recuada, mais estreita que a da maioria das índias brasileiras, olhos pretos com fenda palpebral apertada, nariz de raiz bem formada e quase reto, uma boca grande com lábios não muito grossos, zigomas um pouco salientes, queixo antes pouco desenvolvido, peloe de cor amarelo-escura e magnífico cabelo preto.”

índia Tauapeçaçu

E ao entrar pela baía de Guanabara, não deixou de registrar a emoção de seu olhar:

“além e mais além do nosso vapor se adentrava neste montanhoso lago de águas salgadas, nosso olhar ébrio de beleza sempre descobria novos atrativos nesta maravilhosa vista panorâmica”

Teresa teve uma vasta produção escrita, com riqueza de detalhes que nenhum outro viajante naturalista teve.

Rio de Janeiro

E quando lemos seu diário, conhecemos sua história, suas lutas e suas vitórias, me pergunto, porque uma exploradora tão dedicada e competente, com um material que além de vasto possui uma qualidade acadêmica invejável não é tão estudada e exaltada como seus pares homens?