Mundo pós-pandemia, Home Office e Efeito Matilda

Hoje eu fui dar uma “zapeada” na rede social LinkedIn e fiquei preocupada com os rumos do mercado de trabalho no mundo pós-pandemia. Uma grande empresa brasileira anunciou que está implantando o sistema de home office (parcial, pelo menos a princípio) para sua parte administrativa. Eu não faço muito juízo de valor sobre as respostas pois, por ser uma rede social com fins específicos de networking profissional, percebo que interesses pessoais ou falta de reflexão sobre determinados temas correm soltos, afinal, ninguém quer contestar uma empresa ou alguém que possa lhe fornecer um degrau de ascensão no mundo corporativo.

Imagem: Pixabay

O que me deixou pensativa foi justamente a recrudescência do Efeito Matilda no mercado de trabalho (veja este post), com a mulher exercendo o papel de profissional, dona de casa, mãe, etc simultâneamente.

Segundo a Revista Cobertura as mulheres dedicam em média 18,5 horas semanais em cuidados com os afazeres domésticos ou com outros. Uma comparação muito rasteira é como se ela trabalhasse 9 horas por dia, 7 dias por semana. E este cenário se agravou com o isolamento social que ocorre por conta da COVID-19.

Isso é muito preocupante, ainda mais com as várias reportagens sobre o aumento de violência da mulher, síndrome de burnout e a certeza de que as mulheres serão as primeiras a serem demitidas caso não cumpram as metas estabelecidas pela empresa.

Eu estou em regime de home office, e sei bem o quanto esta prática – no meu caso temporária de fato – está sendo negativa para meu emocional.

Ainda não há pesquisas sobre o impacto desta forma de trabalho na saúde do trabalhador, principalmente no caso da mulher trabalhadora. Então, aquilo que eu vi nos posts com profundo regozijo por parte dos que divulgaram a notícia e das respostas dos que procuram um degrau nesta escadaria, o meu sentimento é de temor pela saúde física e mental da mulher trabalhadora, frente a uma rotina que possibilite – a muito desgaste emocional – a sua manutenção no mercado de trabalho.

Creio que ainda está muito cedo para este tipo de tomada de posição. Se nem a vacina temos ainda, quem dirá um trabalho científico sério a respeito da saúde do trabalhador neste cenário.

MANSPLAINING ou “deixa eu te explicar TUDO o que você já sabe”

Dia destes, em uma aula, eu estava lendo a citação do evangelista Mateus para falar sobre a origem do termo “efeito Mateus” e consequentemente explicar o “Efeito Matilda”, que já escrevi neste post.

Qual foi minha surpresa quando um cara presente na reunião me interrompeu e começou a explicar aos demais o que eu estava falando. Nem preciso dizer que visualizei um salto na jugular do sujeito e peguei ranço total.

Lá atrás, quando eu trabalhava no ambiente off-shore, demasiadamente masculino, eu relevava na maioria das vezes. Mas agora eu estou falando do ano de 2020 de uma pessoa teoricamente esclarecida, em um ambiente acadêmico. O machismo na nossa sociedade é tão estrutural que os homens não se percebem de seus atos.

O Mainsplaining ocorre quando o homem, no “alto de sua sabedoria e complacência” explica o que a mulher já sabe. Pegando uma definição básica do wikipedia temos: Mansplaining é um termo que significa “(um homem) comentar ou explicar algo a uma mulher de uma maneira condescendente, confiante, e, muitas vezes, imprecisa ou de forma simplista”. A autora Rebecca Solnit – que teve um livro de sua autoria explicado (para ela!!) por um homem em uma reunião – atribui o fenômeno a uma combinação de “excesso de confiança e falta de noção”. Lily Rothman da revista americana The Atlantic define o termo da seguinte forma: “explicar sem levar em conta o fato de que quem é explicada sabe mais do que quem explica, o que é geralmente feito por um homem a uma mulher”

imagem: https://www.shethepeople.tv/blog/genderwars-omnipresent-menace-mansplaining/

Existem pesquisas e estatísticas que demonstram que a mulher tem uma probabilidade muito maior de ser interrompida do que o homem. O jornal The Intercept Brasil fez um post sobre mansplaining onde ele cita que no primeiro debate da campanha eleitoral entre Trump e Hilary Clinton, ela sofreu interrupção 39 vezes enquanto estava falando.

Como podemos perceber, esta questão do desrespeito à opinião feminina, seja ela política, acadêmica ou até mesmo sobre futebol ainda está longe de ser ideal. Mas a questão é nunca desistir de colocar as suas opiniões.