Experiência e Liderança

restauração pintura séc 19

Esta semana eu li uma postagem que falava sobre a conclusão de uma grande empresa de consultoria que dizia estar faltando líderes. E ao analisar o texto, vi uma questão que percebo como uma das mais comuns de nosso mercado, embora digam que não (é antiético!) – a idade.

As empresas e os recrutadores querem líderes sim, mas de no máximo seus 40-45 anos. E assim, muitas vezes o que se vê são ótimos técnicos sendo péssimos chefes. Isso porque líder e chefe são duas definições totalmente diferentes. E aí as empresas reclamam que não conseguem formar jovens líderes.

Sabe por quê? Porque líder se faz pelo que ele se torna na sua trajetória e não pelo tempo de experiência. Pela média, um profissional se forma na faculdade com 25 anos (mais ou menos), começa logo a trabalhar como trainee, depois de x anos vai a júnior, depois a pleno, depois… depois… depois…

Neste processo ele pode vir a se tornar um excelente técnico, capaz, inovador. Com o tempo ele vai se aperfeiçoando cada vez mais, e cada problema leva a uma diferente solução – aprende o pulo do gato.

Mas o líder vai se formando com o desenvolvimento da inteligência emocional, da empatia, da arte da negociação, do aprender a prestar atenção, e da resiliência. E isso se consegue com tempo, com muito tempo. O ótimo técnico pode fazer curso para ouvir o outro, de comunicação não violenta, de estratégia de abordagens, o curso que for. Mas isso é teoria e o exercício do curso é controlado, hipotético.

Ah… então me diga, onde aprende isso? Com a vida, com as vivências diárias. E mais, com o saber lidar com os diferentes o longo dos anos. Saber lidar com o síndico do seu prédio, saber lidar com o guarda de trânsito, saber dialogar domingo à tarde enquanto um filho quer ir ao cinema e o outro quer ficar em casa jogando videogame, ou quando os dois querem o último pedaço da torta. Escolher entre financiar o carro em 36 vezes ou esperar um pouco no ônibus superlotado e diminuir as prestações para apenas 24.

Isso se aprende com a vivência, e vivência significa que o tempo passa. Que o grisalho aparece, e que os 40 anos ainda é pouco. Alexandre se tornou o grande porque foi educado pelo velho Aristóteles. E sabe aquele grande artilheiro que vale milhões de euros? Ele tem na beira do campo seu “professor” gritando “pela esquerda, recua, passa bola pra fulano”.

O que vejo é que em pleno século XXI, com todos os avanços da medicina e do bem-estar, o profissional com cerca de 50 anos tem muita saúde, garra e disposição para produzir, liderar, construir. Então qual a questão das empresas de contratar estes profissionais?

Enquanto que estes profissionais “cinquentões” estão no séc. XXI com todo gás, as empresas e os recrutadores ainda estão chegando no séc. XV, quando os Medici encomendavam nos ateliês várias pinturas que tinham pinceladas dos jovens gênios, mas quem chamou para si a responsabilidade de pintar a Vênus, foi Botticelli (com 41 anos – já velho para os padrões da época).

E quanto ao “saber fazer”, à experiência adquirida, você deixaria qualquer um restaurar uma obra de arte?

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