Sempre expressei aqui o meu amor ao poeta Pablo Neruda, da emoção ao conhecer Isla Negra, sua última morada. Sempre reverenciei seus poemas, sua sensibilidade, seu prêmio Nobel de Literatura em 1971. Enfim… o poeta do amor. E é lógico que tenho um post com minha ida até lá, Por Onde Andei. Vários detalhes em minha casa demonstram o “jeito Pablo Neruda de ser”.
Mas esta semana foi uma das mais incômodas da minha vida. Li a resenha de um livro na Revista Bula que me deixou com um sentimento de que fui traída. Foi publicado um livro “Malva”, que conta como Neruda abandonou sua primeira esposa na miséria e sua filha que tinha hidrocefalia, a qual dizia ser uma “vampiresa de três quilos”.
Mas este post não é sobre o livro (leia a história no link da revista acima), e sim como nos deixamos levar pelas aparências, pela persona que o indivíduo representa na sociedade e lembro do que minha vó dizia “coração de gente é terra que ninguém pisa”. O que vi em sua casa de Isla Negra foi o poeta Pablo Neruda. O que me fez sentir uma paixão imensa por ele foi a máscara poeta. Suas poesias de amor absolutamente perfeitas refletiam apenas uma face neste conjunto chamado Espírito.
Mas esta questão da filha Malva e do abandono deu um nó na minha garganta, e sabe porque? Contraria de forma absoluta a minha visão sobre este assunto. Feriu minha ética sobre pessoas com necessidades especiais.
E também fui mais fundo nesta reflexão. Me fez enxergar que são poucas as pessoas que conhecemos, até aquelas com quem convivemos muitas vezes agem de forma que sequer um dia poderíamos imaginar. Quem matou o imperador Julio Cesar foi seu filho adotivo Marcus Julius Brutus. E poderia ter alguém mais próximo?
Saber desta história de Neruda não vai diminuir minha admiração pelo poeta, mas me fez vê-lo como homem, como eu, como você. Confesso que foi uma paulada na minha visão romântica embalada pelas suas poesias na rede ao pôr do sol, mas me fez ver algo muito mais profundo. Que não devemos colocar no Olimpo seres humanos normais. Afinal, como me mostrou Pablito, todos temos a sombra e a luz dentro de nós. E deixemos o Olimpo para os deuses que lá habitam.